Com o objetivo de ampliar o
acolhimento e a proteção social da população em situação de rua, Ibiporã
contará até o final do ano com um abrigo institucional. Um imóvel pertencente à
Prefeitura Municipal de Ibiporã está sendo reformado para que esteja em
condições de atender tecnicamente estas
pessoas e auxiliá-las a sair dessa situação. “É uma casa ampla, com seis
quartos, banheiros, cozinha, espaço para refeitório e um salão para o
desenvolvimento das atividades psicossociais, além de possibilitar privacidade
nos atendimentos individualizados”, explica a secretária de Assistência Social,
Ireny Sorge.
O recurso para implantação das ações de abordagem
e acolhimento aos cidadãos em situação de rua é proveniente do Governo
Estadual, por meio do Fundo Estadual de Assistência
Social (Feas).
Projeto “Mãos que Acolhem”
Visando a acolher a população em situação de rua durante a
pandemia de Covid-19, a Prefeitura de Ibiporã está desenvolvendo o projeto “Mãos que Acolhem – Acolhimento Provisório de Pessoas em Situação
de Rua”. Com a interrupção das atividades e eventos esportivos por conta da
pandemia, o ginásio do Jardim Pérola foi adaptado para atender esta população.
O serviço começou a ser
oferecido em meados de agosto. No abrigo, os moradores em situação de rua têm
acesso à hospedagem, alimentação, banho, cuidados de higiene pessoal,
lavanderia, avaliação das condições de saúde, testagem para a Covid-19,
atendimento psicossocial, oficinas artesanais, inclusão em programas sociais e
encaminhamentos, tais como regularização
de documentação pessoal, mercado de trabalho e qualificação profissional. O trabalho é desenvolvido em parceria com algumas secretarias
municipais e entidades que já realizam algum tipo de atividade com a população
de rua.
Conforme a Secretaria de
Assistência Social, das 25 pessoas que vivem em Ibiporã de maneira fixa, 23
aceitaram ser acolhidas. “A avaliação é muito positiva. Eles estão participando
das atividades, respeitam as regras, auxiliam na gestão do espaço e têm um bom
convívio. Esta ação articulada entre poder público e sociedade civil coloca à
disposição destas pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social uma
estrutura que possibilita um acolhimento digno, que ao mesmo tempo atenda as
especificações do Ministério da Saúde, permitindo, sobretudo, a preservação da
vida”, argumenta Ireny.
O assistente social Everton
Yukita conta que as atividades domésticas são divididas por brigadas. “Temos a
brigada que prepara o café da manhã e da tarde, a responsável por lavar os
banheiros, limpeza das áreas comuns. Cada um é responsável por lavar a sua
roupa. Para integrá-los ao funcionamento do acolhimento, realizamos de segunda
a sexta-feira, no início da tarde, uma “reunião de condomínio”. No início, os
via acuados, poucos se manifestavam. Agora, a maioria opina, sugere, os
conflitos são resolvidos na base do diálogo. São iniciativas que promovem a
participação cidadã, convivência, fortalecimento de vínculos. Não queremos que
aqui seja simplesmente um abrigo, mas um espaço que permita o acesso e inserção
destes indivíduos nas políticas públicas, estimulando e provocando a sua reflexão enquanto sujeitos de
direitos, facilitando a sua participação no processo de superação da condição
de rua”, enfatiza Yukita.
Recomeço
Simone Santana da Silva, 32
anos, sabe bem como a vida nas ruas é ruim. Natural de Pirassununga, interior
de São Paulo, saiu de casa aos 15 anos e já viveu a experiência de morar nas
ruas de várias cidades do Paraná e Santa Catarina. “Já dormi debaixo da ponte,
praças, estabelecimentos comerciais, salão de igreja. A rua é sofrida. Passei
muito frio, fui roubada, submetida a abusos e covardias”, comenta.
Mãe de cinco filhos, Simone
relata que a situação piorou nos últimos anos ao ser apresentado ao crack pelo
ex-companheiro, que também é alcoólatra. “Já trabalhei, tive minha casa. Mas
ele me tirou tudo para sustentar o vício”, conta.
Simone, que está há cerca de
duas semanas no abrigo, tem sonhos. “Não uso drogas há dois meses. Quero
recomeçar minha vida, trabalhar, reconquistar meus filhos. Hoje estou dando
entrada na minha carteira de trabalho. Aqui é bom, uma espécie de porto seguro,
principalmente agora na pandemia, mas não é para sempre. Gosto muito de carro.
Meu sonho é ter um lava rápido”, revela.