Prefeito
autoriza licitação da primeira etapa do Lago Beltrão Park
As obras de construção do
Lago Beltrão Park começam a sair do papel. Nesta sexta-feira (31) o prefeito de
Ibiporã, João Coloniezi, autorizou a licitação para executar a primeira das
três etapas da obra, que inclui a construção da barragem de contenção principal
do lago que será utilizada também como via pública (rua e calçada) interligando
os loteamentos Residencial do Lago e Beltrão Park Residence, através da Rua das
Violetas e Rua Alexandre Gutierrez Beltrão, melhorando o acesso a estes
conjuntos. O preço máximo a ser licitado é de R$850 mil. O edital da licitação,
na modalidade concorrência pública, será publicado em no máximo 60 dias.
Segundo a Secretaria Municipal
de Planejamento, a segunda etapa contemplará a construção da barragem
intermediária que irá compor o lago em dois níveis, formando dois lagos, uma
ponte de travessia de seis metros de largura e uma pequena queda d´água em
desnível. A terceira etapa será a complementação paisagística do lago, com a
implantação da vegetação, calçadas de passeio de pedestres, ciclovia que
interligará o lago a vários bairros e também ao Museu do Café, e equipamentos,
tais como: Academia ao Ar Livre, playground, bancos, pergolados e iluminação.
A previsão é que mais de R$2
milhões provenientes de recursos municipais sejam investidos nesta nova área de
lazer. “Iniciamos hoje uma etapa importante no processo de construção desta relevante
obra que proporcionará lazer, segurança e qualidade de vida não apenas para os
moradores daquela região, como também para todos os munícipes. Há que se
ressaltar também o profissionalismo e empenho de toda a equipe da Secretaria de
Planejamento, por meio dos seus engenheiros e arquitetos na elaboração dos
projetos e das planilhas de custo, e também do setor administrativo em agilizar
a questão documental, para transformar os lotes em envolvidos no projeto em
áreas de utilidade pública e interesse social viabilizando assim o
empreendimento”, concluiu o prefeito.
O Secretário de Planejamento
José Roberto de Oliveira destaca que
esta obra irá oferecer para os munícipes um grande espaço de lazer completo.
“Ibiporã merece obras como esta que valorizam e engrandecem não só a região mas
também todo o entorno, revitalizando e dando oportunidade de espaços
contemplativos, lazer, áreas de descanso, contato seguro com a água, espaços
para eventos culturais e de recreação. A
região onde será implantada esta obra também tem resquícios culturais
históricos que pretendemos explorar,
assim a população poderá , além do lazer, ter contato também com parte
da história da família Beltrão", concluiu o Secretário.
Texto Histórico sobre a família Beltrão em Ibiporã.
CASA HISTÓRICA DE ALEXANDRE
BELTRÃO E A SUA CHEGADA A IBIPORÃ PARA INICIAR O PLANEJAMENTO E A COLONIZAÇÃO
DO MUNICÍPIO (DÉCADA DE 1930)
Este relatório
traz um histórico da chegada do engenheiro Alexandre Gutierrez Beltrão a
Ibiporã e de todo o trabalho de levantamento que ele fez da área rural e urbana
onde hoje está localizado o município. Também traz fotografias inéditas da sua
presença nos primórdios de Ibiporã, captadas em 1936, ano em que só havia matas
e a cidade era ainda um mero projeto. Duas delas são da inauguração oficial da
estação ferroviária (em 15/07/1936) e outra de Alexandre Beltrão em sua casa,
às margens da linha férrea, adquirida dos construtores da estrada de ferro como
ponto estratégico para ali instalar a sua família e o seu escritório de
colonização.
Esta casa existe até hoje, em perfeito estado e
com as mesmas características de quando foi construída. Fica na Chácara Beltrão
(com acesso pela Avenida Mário de Menezes/ BR-369) e constitui importante patrimônio para o município, pois guarda
documentos, livros, mapas antigos, o projeto original da cidade de Ibiporã em
1936, quadros e fotografias originais que atestam os primeiros anos do
município. Um acervo familiar que pode ser transferido para o poder público, para
arquivamento em local adequado e assim ter salvaguardada parte da sua história.
Vale ressaltar que as imagens já foram cedidas
pela família para digitalização e cópia para comporem o acervo do Museu
Histórico e de Artes de Ibiporã (MHAI), mantido pelo Município.
Outra fotografia exibida neste relatório mostra
Alexandre Beltrão ao pé de uma figueira branca gigante que havia ao lado de sua
casa, acompanhado de seu irmão mais velho e sócio na colonizadora, Francisco
Gutierrez Beltrão. Este veio naquele dia a Ibiporã para a inauguração da
estação de trem. Outras imagens, também datadas de 1936, mostram a abertura de
estradas pela colonizadora (chamada Escritório Técnico Beltrão e Cia.) para
ligar o futuro povoamento de Ibiporã aos lotes rurais que seriam oferecidos aos
compradores. Duas delas são da Estrada do Guarani (região Norte do município).
NAS MATAS AQUI DESDE 1925
Eleonora Beltrão Barcik, nascida em Ibiporã em
1939, filha mais nova de Alexandre Beltrão, conta que seu pai esteve na região
Norte do Paraná pela primeira vez em 1925 para fazer um levantamento de toda a
margem esquerda do rio Paranapanema a fim de montar um mapa.
Em 1925, ele foi chamado para fazer um
levantamento da margem esquerda do Paranapanema, descendo toda aquela faixa até
o rio Ivaí. Precisavam fazer o mapa do Paraná, porque em 1925 iria haver um
congresso e todos os Estados precisavam apresentar o seu mapa, e o Paraná ainda
não tinha essa região levantada. Meu pai ficou três anos dentro do mato e até
escreveu um livrinho que se chama “Três Anos de Sertão”. Ele ficou na mata,
levantando, puxou uma linha Norte-Sul verdadeira. Naquela época, o levantamento
era feito dentro do mato, não tinha aparelhos, eles faziam através de
triangulação geodésica. Tinham que se basear nos astros e tinha que ser à
noite, pois tinham que ver os astros, para fazer a triangulação geodésica. Era
muito complicado, pois mal enxergavam o céu. Comiam animais, acampavam em
barracas.
Em 1929, Alexandre Beltrão voltou a Ibiporã
para iniciar o levantamento da região que era chamada de “terreno Jacutinga”.
De acordo com o Compêndio Histórico de
Ibiporã (2008)[1], em 1931 foi concluído o Plano de Loteamento do Terreno Jacutinga,
“baseado nos levantamentos topográficos dos ribeirões Jacutinga e braço do
Jacutinga, feitos pelo Escritório Técnico Engº Beltrão, em 1929.”
Como o irmão mais velho de Alexandre, o também
engenheiro Francisco Gutierrez Beltrão, já era conhecido e havia executado para
o Governo do Estado levantamento de áreas e abertura de estradas no Sul e Sudoeste,
a concessão da área onde hoje fica Ibiporã foi dada a ele, em 1933. Mas coube a
Alexandre implantar o projeto de colonização.
O modelo de concessões fazia parte de uma
política governamental da época de buscar integrar as regiões inabitadas, por
meio da abertura de estradas e ocupação das terras consideradas devolutas
(desocupadas e desabitadas). Boni (2014), ao escrever sobre “O início da
colonização do Norte do Paraná” observa que até as primeiras décadas do século
XX, toda essa região era ainda “mata virgem, um trecho da então densa Mata Atlântica”
– referindo-se à extensa faixa de terras que ia da margem esquerda do rio
Tibagi até o Paranapanema (ao Norte), e até o rio Paraná, (a Oeste). “O governo
percebia necessidade de ocupar aquelas terras para assegurar a integridade
territorial do Estado, mas isso exigiria tempo, estratégias e principalmente
investimentos – obstáculos difíceis de serem superados.”
A professora de História da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), Odah Regina Guimarães Costa, no artigo “Planos de Colonização
Oficial aplicados a partir da década de 1930, em zonas pioneiras e de
povoamento, no Estado do Paraná”, relata que a concessão da Gleba Jacutinga
(hoje Ibiporã) a Francisco Beltrão teve o seu contrato assinado em 1933.
A partir da colonização oficial desenvolvia-se
no Paraná uma colonização de caráter semi-oficial, processada indiretamente por
meio de intermediários, através de concessões efetuadas pelo Estado e firmadas
por contratos, como aquela outorgada ao Engº Francisco Gutierrez Beltrão, em
pagamento dos serviços relativos à construção das estradas de rodagem de
Clevelândia a Santo Antônio e de Porto Vitória a Mangueirinha, localizada na
Gleba Jacutinga, no município de Londrina [na verdade o correto é Jatahy, município
ao qual Ibiporã pertenceu entre 1929 e 1934], sendo ali fundada a Colônia Ibiporã.
Essa Gleba Jacutinga (atual Ibiporã), até 1929
fazia parte do território de São Jeronymo [da Serra], conforme a grafia da
época. Depois passou para Jatahy (hoje Jataizinho), que desmembrou-se de São
Jerônimo da Serra em março de 1929. E a partir de 6 de junho de 1934 a área passou
a pertencer a Sertanópolis. No dia 1º de maio de 1939, Ibiporã passou à
condição de distrito de Sertanópolis. Nascia ali a “Vila Ibiporã”. E somente em
8 de novembro de 1947 é que Ibiporã emancipou-se a município.
Ainda sobre a concessão a Francisco Beltrão, Odah Costa acrescenta que “o contrato entre o Estado e o referido concessionário foi firmado a 11 de maio de 1933, sendo a concessão titulada ao mesmo em 8 de agosto de 1935. Outro tipo importante de colonização na época, lembra a autora, “era o das companhias particulares”, como foi o caso da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), responsável pela colonização bem-sucedida do Norte e Noroeste do Estado a partir de Londrina.
Como Francisco Beltrão morreu quatro anos
depois, em 1940, coube a Alexandre prosseguir sozinho os trabalhos na região com
o Escritório Técnico Beltrão e Cia.. Também em razão do falecimento do irmão,
Alexandre quis homenageá-lo com o nome do recém-criado (em 1939) grupo escolar de
Ibiporã, cujas primeiras salas foram construídas em 1940. Como dá nome a esse prédio
histórico, onde a maioria dos ibiporaenses passou a estudar desde então, e
também a uma avenida na cidade, o nome Francisco Gutierrez Beltrão é mais
conhecido entre os habitantes locais que o de Alexandre Beltrão, embora tenha
sido esse o planejador e colonizador do município.
Na figura 3, Alexandre Beltrão está na plataforma da estação de Ibiporã com sua esposa Cornélia e o filho Lauro (com cinco anos na época) acompanhados das principais autoridades de então. Como é dia de comemoração, provavelmente a inauguração oficial da estação – sua abertura ao tráfego se deu em 15 de julho de 1936[2] – estão presentes o diretor da grande empresa colonizadora da região (CTNP), Willie Davids, o representante da empresa ferroviária, o chefe da estação, os engenheiros envolvidos no início da colonização de Ibiporã e o jornalista para documentar o ato oficial. Atrás das lentes, provavelmente José Juliani, fotógrafo oficial da CTNP desde 1933, que assina a próxima fotografia, da figura 3. Tudo indica que tenham sido captadas no mesmo dia.
A figura
4a mostra a chegada do trem à estação, em fotografia que ficou convencionada
como a da inauguração oficial do terminal, em 15 de julho de 1936. Essa data
está marcada a caneta no verso da fotografia, no álbum oficial de Alexandre Beltrão
(figura 4a), cedido para digitalização e cópia. Essa mesma fotografia aparece “tratada” no livro Coleção Fotográfica
José Juliani (2011), publicado pelo Museu Histórico Pe. Carlos Weiss, da
UEL, de Londrina.
A principal
diferença é em relação à data. Na legenda do livro, aparece como sendo de “setembro
de 1936”, porém, no álbum de Alexandre Beltrão e nos registros do Museu
Histórico e de Artes de Ibiporã (MHAI), é a da inauguração, em 15 de julho.
Outra incorreção na legenda do livro é quanto ao sentido em que se desloca o
trem, pois a imagem mostra que ele vem de Londrina (e não o contrário, como diz
a legenda).
Um olhar mais demorado nas imagens ampliadas, com base nos
trajes usados pelas autoridades (como Willie Davids) e por Alexandre Beltrão e
família, demonstram que as fotografias das figuras 2, 3 e 4 teriam sido
captadas no mesmo dia e talvez pelo mesmo fotógrafo.
A CASA HISTÓRICA DE BELTRÃO (PRESERVADA ATÉ HOJE)
Outra fotografia importante para a compreensão desse período em que a cidade ainda não existia é a casa de Alexandre Beltrão, às margens da ferrovia, que existe até hoje e permanece em bom estado. A casa havia sido montada pelos engenheiros ingleses que estavam construindo a ferrovia e Alexandre lhes propôs, entre 1935 e 1936, a compra do imóvel e da chácara para fixar residência em Ibiporã e instalar ali seu escritório de colonização. Assim iniciaria o trabalho de venda dos lotes rurais e urbanos localizados na área de concessão que lhe fora entregue.
No verso dessa fotografia, que mostra a bela casa adquirida dos
ingleses em meio à mata fechada e apenas uma clareira em frente aos
trilhos do trem, Eleonora Beltrão anotou que a imagem pode ser do mesmo dia da
inauguração da estação, em 1936.
Na foto estão o Lauro, sem o
casaquinho, o meu pai e outros homens na varanda. Como era mata fechada e ruim
para se deslocar de carro, podem ter vindo de trem e desembarcado em casa. Essa
casa era muito boa e meu pai deve ter optado por ficar aqui devido ao acesso
fácil pela ferrovia. (BARCIK, 2015)
Seu irmão, o médico Lauro de Castro Beltrão,
nascido em 1931, que reside em Londrina, fez essa mesma observação, em
entrevista à Folha de Londrina, publicada em 23 de julho de 2013. Disse que seu
pai considerou a localização da casa favorável à instalação do escritório de
colonização. “Moramos numa clareira aberta na floresta, a nossa casa, de
madeira, muito encostada à linha do trem”, recorda Lauro.
“Foi a
primeira casa da área urbana de Ibiporã”, afirma Eleonora. Sabe-se que já havia
algumas famílias instaladas na então Gleba Jacutinga, porém estavam em áreas
rurais distantes da sede do futuro povoado.
Desta casa, Eleonora e os irmãos guardam as
lembranças de infância. “Lembro que na década de 30 o Lauro tinha que pegar o
trem todos os dias para ir estudar em Londrina, pois aqui (Ibiporã) não tinha escola.
Ele ia a cavalo até a estação e pegava o trem. Depois, de tarde, o capataz e ia
até a estação buscá-lo.” (2015). A família morou em Curitiba na década de 40,
quando Alexandre Beltrão foi prefeito da Capital (de 1934 a 1944), mas sempre vinha
passar as férias em Ibiporã, relata Eleonora.
A gente passava as férias
todas de janeiro e de julho aqui. Minha avó e meus primos vinham junto e
passávamos um mês inteiro aqui. Mesmo porque o meu pai continuou trabalhando na
região [em projetos de colonização] e a sede de trabalho dele sempre foi aqui
em Ibiporã. Ele ia pra Engenheiro Beltrão, para a região de Paranavaí, Campo
Mourão, Tamboara e sempre voltava para cá, porque a família estava aqui. (...)
Quando a gente era criança aqui passava um trem maravilhoso. Era uma locomotiva
pesada e quando passava à noite, parecia um bólido de fogo, pois saíam aquelas
fagulhas [era uma “Maria-Fumaça”]. Aí a gente levantava da cama e corria pra
ver o trem passar. Ia subindo aquele fogo e as faíscas caíam até por cima da
casa. E eram máquinas pesadonas, então sacudiam a nossa casa, pois ela fica
muito perto da linha [a cerca de 15 metros. Outra lembrança é que a
gente vinha de trem para cá, porque havia o trem de passageiros e de carro não
dava para vir porque a estrada era péssima. Então a gente saía de Curitiba umas
4 horas da tarde e por volta de umas 5h30 da manhã o trem chegava em Ourinhos.
Daí a gente descia para pegar outro trem que vinha de São Paulo para Londrina.
E era um trem bem piorzinho, que levava horas pra chegar aqui... Lembro que era um dia e meio viajando.
PROJETOS
INICIAIS DE IBIPORÃ
Antes de se fixar nessa casa em
Ibiporã, Alexandre Beltrão morou no Hotel Luxemburgo, em Londrina, e de lá se
deslocava até Ibiporã para fazer as medições e o levantamento topográfico da gleba,
em 1929. A família guarda documentos que atestam o seu trabalho naquela época. Há,
por exemplo, quatro livretos de 1929 com anotações a lápis, com as coordenadas
geográficas das áreas que Beltrão ia levantando para depois transportar para um
mapa que pudesse ser apresentado futuramente aos interessados em comprar lotes.
“Esses mapas de antes de 1935 tiveram que ser desenhados no escritório da
empresa em Curitiba, pois lá havia uma equipe de desenhistas e aqui ele não
tinha condição de fazer isso.”
Entre os documentos guardados na casa de Beltrão, está o projeto original da cidade de Ibiporã, de 1936 (figura 6), aprovado em 31 de outubro de 1936, em Curitiba, pela “Secretaria de Obras Públicas, Viação e Agricultura” e pelo “Departamento de Terras e Colonização”, órgãos do Governo do Estado. Ibiporã consta como “colônia” do município de Jataí. Há também mapas da cidade do início da década de 40, que trazem nomes antigos de ruas e avenidas. Num deles, de 5 de março de 1942, na quadra 9, a atual Avenida André Sert recebia o nome Sertanópolis; a atual Getúlio Vargas se chamava Rua Tibagi, e a Avenida Engenheiro Beltrão era Rua Jataí.
FONTE: MHAI/ ESPAÇO DE MEMÓRIA DE IBIPORÃ